quarta-feira, 10 de abril de 2013

[notas encontradas nos aposentos de andrik sardu]


Redijo esse breve documento para me recordar de coisas às quais talvez eu não possa dar atenção no presente momento.
Estive, nesses últimos meses, prestando assistência à Aresius Holzwarth em uma expedição à ruínas recém descobertas às margens do Mar Negro, mais especificamente na Romênia. As ruínas apresentam aspectos que remetem ao povo de Dácia com leves influências celtas.
O que me parece incongruente, é que a idade da ruína parece ultrapassar a idade do povo dácio em si, e ainda mais a época da invasão celta.

Porém, me preocupam na realidade, não suas incongruências históricas, mas sim uma congruência que, à meus olhos que muito já viram, não pode ser dispensada como mera coincidência.
Anos atrás, em um sítio arqueológico bastante afastado – se a memória não me escapa (e ela raramente o faz) em uma pequena gruta na ilha de Tory – me deparei com murais gravados e algumas páginas soltas contando uma história bastante particular.

Contava a história de uma divindade menor – talvez oriunda de alguma derivação dos Fomori –, a quem eu e meus então colegas carinhosamente batizamos de “Deus da Inconveniência”, chamada Svonnov. Inconveniência porque esse deus parecia ser regido pelo desejo de provar de todos os néctares, comer de todas as comidas, ver todas as paisagens e ouvir todas as conversas e todos os sons.
Na história encontrava-se em curso uma grande festa do panteão. Após comer os pratos de entrada praticamente sozinho e se intrometer em conversas onde não havia sido convidado, os demais deuses – e o anfitrião, Kol, uma entidade tríplice e um tanto complicada de se definir com tão pouca informação – concordaram que ele deveria ser expulso do salão de jantar, e que deveria ser permitido ao nosso Deus Inconveniente somente o trânsito pelo salão de festas para que ele pudesse assistir às danças e ouvir a música.
Feito isso, Svonnov começou a passear pelo palácio a esmo, procurando novas sensações para sentir. Por acaso ou destino sádico, Svonnov entrou nos aposentos de Elonne, a frágil deusa da Paz e irmã do anfitrião Kol. Elonne, que era feita de vidro, foi confinada a seus aposentos para que permanecesse intacta.
A este ponto o leitor atento já deve ter adivinhado que, conforme esperado de nosso Deus da Inconveniência, a coisa errada seria feita.
Svonnov, sedento, tocou-a.
A deusa da paz caiu e quebrou-se em mil pedaços, e o som foi ouvido por todo o castelo e por toda a extensão da terra dos deuses.
Kol, tomado pela ira e a sede de vingança, capturou Svonnov e desmembrou-o e lançou seus pedaços sobre a terra.
Nesta cosmogonia os pedaços de Svonnov pareciam ter dado origem aos humanos e ser a justificativa para sua interminável sede e ambição.

Aqui, nas ruínas da Romênia, me deparo com uma sequência de quadros similar. Porém, o último quadro exibe uma imagem um tanto diferente.
Os humanos, abaixo da cobertura de nuvens, assistem a queda das partes de Svonnov.

Como arquimagos sabemos que a maioria das cosmogonias são – em algum nível – verdade, me pergunto então que fim terá sido dado aos restos de Svonnov, uma vez que já haviam humanos para  vislumbrá-los despencando dos céus.

- Notas encontradas nos aposentos de Andrik Sardu

Um comentário:

Bruna Saddy disse...

Me amarro MUITO nos textos do tal Andrik. Quero uma história só dele!
(ou pelo menos uma que ele apareça)