terça-feira, 19 de novembro de 2013

[um conto sobre morte]

Escrito em 30 minutos para o Desafio 2 Minds.

Era uma vez, em um reino muito distante, um Rei. Esse rei era um tirano mesquinho e cruel, e reinava toda sua terra com punho de ferro. Todos aqueles que se recusavam a pagar seus tributos tinham suas casas queimadas, suas terras salgadas e seus filhos levados para o castelo para servir como escravos.
O que impedia os camponeses de se revoltarem contra o Rei, era o fato de que ele era imortal.

Como o tirano que era, certo dia o Rei enviou comitivas de soldados para terras distantes e prometeu graças e ouro aos que lhe trouxessem a vida eterna – ou perderiam suas vidas ao retornarem. É claro, uma única comitiva retornou. Traziam algemado um sábio que, diziam, sabia como alcançar a imortalidade.
O Rei, então, o torturou até que ele o contasse e conseguiu o que queria. Uma vez que o sábio também era imortal, o Rei o aprisionou em uma jaula e o prendeu em uma torre escondida do castelo, para que ele nunca mais fosse encontrado.

Um dia, a Morte veio até o sábio e, vendo que ele havia sido aprisionado pelo Rei – o homem a quem concedera o segredo da vida eterna – perguntou o que havia acontecido. O Sábio contou-lhe então sobre o Rei tirano, sobre como ele governava seu povo frágil e como havia sido torturado até que, em sua vulnerabilidade humana, ele havia revelado seu segredo.
A Morte então, cega de raiva, começou a vagar pelos salões do palácio, invisível aos olhos de todos – afinal, só os sábios podem enxergar a Morte. Rápidamente ela descobriu que toda a família do Rei, seus filhos e netos, cobiçavam o trono do seu pai.
A Morte revelou-se ao filho mais velho, herdeiro ávido e de direito da coroa, e lhe deu um anel. Ela contou que o anel possuia o poder de matar uma única pessoa que ele tocasse - com o dedo em que o vestisse - mas que após matar uma pessoa ele deveria se desfazer do anel ou morrer, ele mesmo, ao nascer do sol.
O filho mais velho vestiu o anel em seu indicador e foi até a sala do trono. Exigindo audiência com seu pai – que, era sabido, era obcecado por jóias -, trouxe uma pérola que havia encontrado como presente. Ele entregou a pérola ao seu pai sobre uma almofada de veludo vinho, e aproveitou o momento para tocar-lhe a mão. No salão real, minutos depois, o Rei Tirano morreu, sentado no Trono.
O príncipe se desfez do anel arremessando-o pela janela, pátio afora.
A morte havia contado o segredo para o filho do meio, que já sabia que seu irmão iria se desfazer do anel e enviou espiões para saber onde.
Um a um, a Morte contou a todos do palácio: o irmão mais novo do príncipe, depois aos irmãos do Rei, depois aos generais de guerra e assim por diante.
E um a um, a Família Real fez o trabalho sujo por ela, com carícias amaldiçoadas.

Não se sabe, até hoje, se alguma outra família apareceu para tomar o trono do Rei tirano. Não se sabe porque o reino todo desapareceu, do dia para a noite. As casas, agora, estão vazias e empoeiradas, alojando apenas os pássaros cansados durante a noite, e os morcegos cegos durante o dia.
Não se tem notícia do anel. Nem da morte.

Só o Sábio viveu – acredita-se – e levou com ele o anel, que carrega em uma fina tira de couro em volta do pescoço, para que possa, ainda, abraçar as pessoas que ama.

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