sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

[glifos e grafos]

Ter me formado em Design, a despeito da minha falta de habilidade com desenho, foi essencial na minha formação como escritor - algo que somente me sei, no momento, já que não tenho livros publicados. As peculiaridades da captação da informação pela imagem são muitas, e estudá-las acabou me ajudando a colocar algo em contraponto com a maneira como as pessoas absorvem o texto.

Cheguei, tem muito tempo, à conclusão de que as pessoas não gostam de ler. “Uma imagem vale mais que mil palavras”, afinal – ler mil palavras exige muito mais tempo e dedicação do que olhar uma imagem. Talvez por isso exista hoje uma rede tão grande de emissores de informação compartilhando gifs de gatos e memes.
Não digo isso em detrimento do valor da imagem, seja ela fotografia ou pintura, mas temo que nos dias atuais tenhamos chegado a uma cultura da informação como “fast-food” – informação científica, jornalística ou mesmo fictícia. Isso foi crucial pra que eu reparasse que a absorção do conteúdo literário toma muito mais tempo do que a absorção do conteúdo gráfico.
O conteúdo gráfico é chamativo o suficiente pra atrair o primeiro olhar. Ele grita, bate na sua porta e está lá. A análise da forma precede a análise do conteúdo.

Mas nem sempre é a forma que comunica. Existem limites para a forma.

Gosto de citar esse vídeo do Richard Seymour (em especial  o trecho entre 5:05 e 5:50, mas o vídeo é inteiro sensacional):




“Is it beautiful now?”
O conhecimento da narrativa por trás da imagem traz uma beleza totalmente nova. Essa imagem só vale mais do que mil palavras porque você passa a conhecer as palavras por trás dela.

Arrisquei, recentemente, participar dos Desafios 2 Minds. Mas diferente da proposta – que é fazer um desenho ou pintura – decidi cumprir os desafios escrevendo em 30 minutos um pequeno texto ou poesia. Me deparei com uma dificuldade quase intransponível que é formular o conteúdo pra escrever um texto e redigí-lo se preocupando com a forma em 30 minutos.

Essa é a diferença crucial entre a informação verbal e a informação visual. A informação visual "depende" de um conhecimento emocional prévio do leitor. A informação verbal pode te aproximar muito do conteúdo, de maneira que você possa se relacionar com ele, mas requer dedicação.

A imagem é primáriamente formal, e a forma está relacionada com a técnica – a composição, a habilidade do artista. Se o conteúdo de uma imagem é raso, você ainda pode apreciá-la pelas suas formas e cores.
É quase imediato “sentir” a imagem. 

A informação verbal possui uma carga forte de forma – se ela é bem escrita, possui cadência, ritmo, se as palavras são bem empregadas – mas ela é intrinsecamente dependente do conteúdo. Se o conteúdo não for interessante, não existe remédio para o seu texto.

Talvez por isso, e pela qualidade relacional do conteúdo, existam tantos autores que carecem de técnica se dizendo escritores. Porém, a falta de conteúdo – por este depender não só da habilidade do escritor ao produzí-lo, mas também da carga subjetiva vinda da relação entre ele e o leitor – é mascarável. Se o autor te conta a história que você acha que quer ouvir, talvez você fique satisfeito.

Porém, na minha opinião, o leitor experiente quer ser surpreendido. A maestria passa a estar no autor que te conta uma história que você não sabia que queria ler, mas depois de lida você sabe que nunca mais será o mesmo.

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